Perplexidade e Silêncio
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Enquanto você espera pela 2ª temporada de Bridgerton no Netflix, o que não está previsto para acontecer até 2022, vamos encontrar outras maneiras de passar o tempo. Não apenas existem muitos livros da série Bridgerton esperando para serem devorados, mas também outros romances históricos para preencher o vazio que a série deixou. Separamos aqui uma seleção especial do Perplexidade e Silêncio para os fãs da série.

Série "Bridgerton", de Julia Quinn
Bom, começando pela sugestão óbvia, se você gostou da série pode engatar a leitura da série de livros que deu origem a ela, livros estes escritos por Julia Quinn. São nove livros escritos e publicados entre 2000 e 2013 que narram a história da família Bridgerton, composta de oito irmãos e a mãe viúva. Ao longo dos nove livros, cada um dos membros da família encontra o amor, mas a forma como este amor é encontrado e o tipo de amor variam ao longo do enredo.
E se, mesmo depois de ler todos os nove livros, você ainda quiser mais, Julia Quinn publicou alguns epílogos e partes extras (oito, no total) das histórias em formato de ebook. 


"O Duque, a Dama e um Bebê", de Vanessa Riley
Quando a herdeira das Índias Ocidentais, Patience Jordan, perde seu marido, ela se encontra injustamente presa por questionar o contexto de sua morte, já que o suicídio dele foi bastante suspeito. Para ficar perto do filho, Leonel, ela arrisca a própria vida e acaba se apaixonando pelo novo tutor dele, Busick.
Busick, que vem de uma carreira militar, é fechado e reservado. A princípio, não parece particularmente interessado por Patience mas, como o próprio nome dela já diz, ela não desiste de tentar reconstruir sua vida.
Não encontrei muitas resenhas deste livro e, aparentemente, só temos disponível uma edição em português de Portugal, mas vi que a edição em inglês recebeu resenhas positivas no Goodreads.


"Derrubar o Duque", de Evie Dunmore
Uma estudante rebelde de Oxford enfrenta um duque poderoso numa história de amor que ameaça abalar a ordem social britânica na Inglaterra de 1879.
Annabelle Archer, uma jovem inteligente mas sem posses, é uma das primeiras estudantes femininas da conceituada Universidade de Oxford. A bolsa de estudos que lhe foi atribuída exige que ela recrute homens de influência para defender a causa do movimento sufragista. Um dos homens mais influentes é o frio duque de Montgomery, responsável pela política da Grã-Bretanha.
O duque fica horrorizado ao descobrir que um esquadrão sufragista se infiltrou na sua casa, mas a real ameaça são os seus sentimentos impossíveis pela bela Annabelle. No entanto, Montgomery não seria o maior estrategista do reino se não conseguisse virar a situação a seu favor e confrontar Annabelle com uma proposta muito diferente.

"O Circo da Noite", de Erin Morgenstern
Os dois jovens mágicos, Celia e Marco, viajam pelo mundo como membros do Circo da Noite. Eles são treinados desde a infância para participar de um duelo ao qual apenas um deles sobreviverá, mas o problema é que nenhum deles sabe disso. Inocentes, eles mergulham de cabeça num amor profundo, mágico e apaixonado.
O circo serve a um propósito mais sombrio além do entretenimento e do lucro, entretanto. Dois poderosos mágicos, Próspero, o Encantador, e o enigmático Sr. A.H-, preparam seus jovens protegidos, Celia e Marco Alisdair, para representar sua rivalidade.
Este é o primeiro livro de Erin, publicado em 2011, e o cenário de fundo da história é a Londres do século 19. Uma das características mais interessantes desta obra é que ela não é narrada de forma linear e o enredo é contado através de diversos pontos-de-vista. 

E você, adicionaria mais algum livro nesta lista? Deixe aí nos comentários que vou adorar saber!

O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura fora do eixo EUA-Inglaterra e, assim, permitir que mais leitores conheçam novos escritores e novas culturas. No post de hoje, falaremos sobre três recomendações de leitura do Afeganistão, representadas por duas escritoras que merecem sua atenção.

Nas últimas semanas, o mundo assistiu ao Talibã retomar o controle do Afeganistão. Em um golpe rápido que culminou com a tomada de grandes cidades, incluindo Cabul, e com o presidente Ashraf Ghani fugindo do país, este grupo terrorista realizou o que os especialistas apelidaram de uma “obra-prima” operacional. Enquanto as potências globais debatem se devem legitimar esta ditadura reconhecendo-a, a mídia veicula manchetes irresponsáveis ​ sobre como o Talibã "prometeu respeitar os direitos das mulheres e meninas" desta vez (porque aparentemente seu histórico não fala por si mesmo).

O Talibã sempre foi conhecido por - entre outras violações dos direitos humanos - sua opressão de mulheres e meninas. Essa opressão assume muitas formas, mas todas levam ao mesmo resultado: as mulheres não são consideradas pessoas plenas com direitos iguais. Sob o governo do Talibã, as mulheres não podem ir à escola, estar em contato direto com qualquer homem que não seja seu parente consangüíneo, seu marido ou parente (isso inclui médicos, com as implicações médicas correspondentes) ou ter um emprego. E esta é apenas a ponta do iceberg.

As punições por desobedecer às regras arbitrárias são brutais - como a história de Malala nos conta. Apesar das mentiras/promessas do Talibã sobre o tratamento dado às mulheres daqui para frente, sua postura misógina não mudou. Zarifa Ghafari, a prefeita mais jovem da história do Afeganistão, disse a um jornal: “Estou sentada aqui esperando que eles cheguem. Não há ninguém para me ajudar ou minha família. Estou apenas sentada esperando, e eles virão atrás de pessoas como eu e me matarão.”

Neste post, quis fornecer mais informações sobre o contexto do Afeganistão para que você entenda a importância destas escritoras na luta pela igualdade e liberdade em seu país. Elas são mulheres extremamente corajosas que decididamente merecem a atenção do mundo todo no combate à violação dos direitos humanos.

A Filha do Contador de Histórias, de Saira Shah
Saira Shah é filha de um aristocrata afegão, nascida na Inglaterra, e foi inspirada por suas histórias deslumbrantes. Ela decidiu redescobrir a vida dos seus antepassados. Em parte sofisticada e liberal, em parte destemida e apaixonada, Shah torna-se, aos 21 anos, correspondente na frente da guerra entre os soviéticos e a resistência afegã. Então, aprisionando-se em uma burca, ela arrisca sua vida para filmar Beneath the Veil, seu aclamado registro da devastação da vida de mulheres pelo Talibã. Descobrindo sua extensa família, descobrindo um mundo de intenso ritual familiar, de comunidade, de primazia masculina, de casamentos arranjados, e encontrando finalmente o assento familiar agora devastado pela guerra, ela descobre também o que quer e o que rejeita de sua herança.
Saira Shah mora em Londres e é jornalista. Ela nasceu na Grã-Bretanha de uma família afegã, filha de Idries Shah, um escritor de fábulas sufis. Ela visitou o Afeganistão pela primeira vez aos 21 anos e trabalhou lá por três anos como jornalista freelance, cobrindo a guerra de guerrilha contra os ocupantes soviéticos. Mais tarde, trabalhando para o Channel 4 News da Grã-Bretanha, ela cobriu alguns dos pontos mais problemáticos do mundo, incluindo Argélia, Kosovo e Kinshasa, bem como Bagdá e outras partes do Oriente Médio. Seu documentário Beneath the Veil foi transmitido pela CNN.

Cozinha à Prova de Ratos, de Saira Shah
Anna é uma planejadora. Então, quando ela descobre que está grávida, ela se prepara para uma nova vida perfeita em Provençe, França, com seu novo bebê perfeito. O parceiro de Anna, o tranquilo Tobias, não deve ter muita dificuldade em acompanhá-la - afinal, ele é um músico que raramente começa seu dia antes do meio-dia. Mas tudo isso muda quando o bebê nasce gravemente incapacitado. Anna, Tobias e sua filha, Freya, acabam em uma casa de fazenda infestada de roedores em uma cidade remota na França - longe da mansão em Provençe que eles haviam imaginado. Mal sabem eles que este é o começo do que se tornará uma incrível jornada do coração, durante a qual eles aprendem que realmente não existe cozinha à prova de ratos. A vida é uma bagunça, e são as partes bagunçadas que a fazem valer a pena.

A Filha Favorita, de Fawzia Koofi
A décima nona filha de um líder de uma aldeia local no Afeganistão rural, Fawzia Koofi foi deixada para morrer ao sol após o nascimento de sua mãe. Mas ela sobreviveu, e a perseverança em face das dificuldades extremas definiu sua vida desde então. Apesar dos abusos de sua família, dos regimes exploradores da Rússia e do Talibã, dos assassinatos de seu pai, irmão e marido, e dos inúmeros atentados contra sua vida, ela se tornou a primeira mulher a falar no Parlamento afegão. Aqui, ela compartilha sua história incrível, pontuada por uma série de cartas comoventes que escreveu para suas duas filhas antes de cada viagem política - cartas que descrevem o futuro e as liberdades que ela sonhou para elas e para todas as mulheres do Afeganistão. Sua história captura o momento político e cultural no Afeganistão, um país preso entre a esperança de progresso e a amarga verdade da história.

E, por favor, sempre, sempre, sempre lembre que seu direito de votar é a coisa mais importante que você tem nas mãos para construir nosso futuro. Jamais se esqueça disso.

Depois de andar pelo mundo de Leigh Bardugo, com seus personagens complexos, contrução de mundo e sistemas políticos brilhantes, ao terminar a leitura (ou a série do Netflix) fica um vazio literário a ser preenchido. No post de hoje, vamos sugerir algumas obras para você ler enquanto espera pela próxima publicação de Bardugo ou a segunda temporada de "Sombras e Ossos".

Veja também: O livro ou a série? Sombra e Ossos, de Leigh Bardugo

Pássaro e Serpente, de Shelby Mahurin
Em uma cidade medieval inspirada na França, onde as bruxas são mortais, os caçadores de bruxas (Chasseur) são tudo o que se interpõe entre o público e a loucura. Lou é uma ladra obscena desesperada para deixar sua vida de bruxa para trás, mas quando um roubo dá errado, ela se vê diante de uma escolha impossível entre a prisão e o casamento com um Chasseur chamado Reid. O capitão Reid dedicou sua vida à caça às bruxas e é celibatário. Isso até que uma cena pública o força em direção a este casamento pagão. Lou ganha proteção, Reid mantém sua posição, mas o casamento de conveniência se transformará em algo mais? Para os fãs de Nina e Mattias, este é o livro certo para você.


Os Encantados de Ferro, vol.1: O Rei do Ferro, de Julia Kagawa
Meghan sempre achou que a vida podia ser muito esquisita, desde que seu pai desapareceu bem diante de seus olhos quando ela tinha seis anos de idade. Ela nunca se adaptou bem na escola ou em casa, sempre com aquela sensação de não-pertencimento lhe incomodando.
Quando um estranho começa a observá-la de longe, e sua melhor amiga brincalhona torna-se estranhamente protetora com ela, Meghan sente que tudo que ela conhece está prestes a mudar. Mas ela nunca poderia ter adivinhado a verdade - que ela é filha de um rei-fada mítico e um peão em uma guerra mortal. Agora Meghan precisa descobrir quais são seus limites e descobrir como lutar contra um mal misterioso, que nenhuma criatura fada ousa enfrentar.

Sete Reinos, vol.1: Graceling, de Kristin Chasore
Katsa foi capaz de matar um homem com as próprias mãos desde os oito anos de idade - ela é uma Agraciada, uma das raras pessoas em sua terra nascidas com extrema habilidade. Como sobrinha do rei, ela deveria ser capaz de viver uma vida de privilégios, mas agraciada com a matança, ela é forçada a trabalhar como bandida do rei. Ela nunca espera se apaixonar pelo belo Príncipe Po ou aprender a verdade por trás de sua graça. Com uma prosa elegante e evocativa e um elenco de personagens inesquecíveis, Cashore cria uma aventura que desafia a morte e um romance de ritmo acelerado.
O livro alcançou a lista dos mais vendidos do The New York Times e recebeu diversos prêmios, entre eles o de livro do ano da prestigiada Publishers Weekly.

A Fúria e a Aurora, de Renée Ahdieh
Khalid, o califa de Khorasan de dezoito anos de idade, é um monstro. Cada noite, ele toma uma nova noiva apenas para ter um cordão de seda enrolado em volta do pescoço na manhã seguinte. Quando o amigo mais querido de Shahrzad, de dezesseis anos, é vítima de Khalid, Shahrzad jura vingança e se oferece para ser sua próxima noiva. Shahrzad está determinado não apenas a permanecer viva, mas a encerrar o reinado de terror do califa de uma vez por todas. Noite após noite, Shahrzad seduz Khalid, tecendo histórias que encantam, garantindo sua sobrevivência, embora ela saiba que cada amanhecer pode ser o último. Mas algo que ela nunca esperava começa a acontecer: Khalid não é nada parecido com o que ela imaginou que ele fosse. Este monstro é um menino com o coração atormentado. Incrivelmente, Shahrzad se apaixona. Como isso é possível? É uma traição imperdoável. Ainda assim, Shahrzad chegou a compreender que nem tudo é o que parece neste palácio de mármore e pedra. Ela resolve descobrir todos os segredos que se escondem e, apesar de seu amor, está pronta para tirar a vida de Khalid como retribuição pelas muitas vidas que ele roubou. 

Você tem mais algum livro para adicionar nesta lista? Deixe aí nos comentários que vou adorar saber!

 

A resenha de hoje é o livro brasileiro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino que ficou comigo por muito tempo, o que não necessariamente é algo bom. 

Marçal Aquino, jornalista, trabalhou muitos anos cobrindo crimes, influência que fica visível em muitas de suas obras. Ele também escreve poesia, roteiros para televisão e para o cinema, o que faz com que seja um dos autores brasileiros contemporâneos mais populares da atualidade. 

"Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", publicado em 2005, é narrado pelo fotógrafo Cauby.  Ele relembra os últimos meses de sua vida enquanto toma café na varanda de uma pensão no interior do Pará. Esta cidade vive o auge da exploração do ouro e sofre com a pobreza e a violência que chegaram com as grandes mineradoras. Cauby viajou de São Paulo para o Pará com o objetivo de fotografar as prostitutas da região, mas acabou ficando na cidade depois de conhecer Lavínia.
Enquanto narra os flashbacks, o leitor começa a entender todo o contexto da cidadezinha: há Chang, um comerciante local que foi morto por pedofilia; Viktor Laurence, um escritor local que sofre perseguição por ser homossexual; Ernani, o pastor evangélico marido de Lavínia; além dos moradores da pensão. 

Mas vamos falar um pouco de Lavínia. Ela é a personagem central da história, que desestrutura Cauby com sua intensidade, sexualidade e dualidade. Lavínia ora é uma mulher tremendamente sexual e libidinosa, ora é consumida pela culpa e recato, e Cauby se vê entre ambas tentando compreendê-la por inteiro. Aos poucos, Cauby descobre que Lavínia foi abusada pelo padrastro, abandonada pela mãe e pelo pai, que seus irmãos eram traficantes e criminosos e que ela já foi prostituta e viciada em drogas, até que Ernani a salvou das ruas. 
Eu tenho uma ressalva: achei a construção da Lavínia misógina e machista. A concepção de Marçal Aqui da "mulher perfeita" (representada pela paixão cega de Cauby) é uma mulher que só quer saber de sexo selvagem e intenso 24 horas por dia. Quando Lavínia não quer saber de sexo, Cauby sente que há algo de errado com ela. E, além disso, a segunda personalidade de Lavínia, a recatada, é completamente nula, como se não houvesse nada mais a ser explorado em uma mulher. Eu fiquei muito incomodada e precisei abstrair disso tudo para seguir na leitura.
Aliás, na verdade tenho duas ressalvas. A dualidade de Lavínia deveria ter sido explorada de uma maneira mais séria. Há um transtorno mental ali, disso o leitor não tem dúvidas, e, sendo psicóloga, fiquei incomodada com a forma simplista e superficial que ele é retratado. Me parece que Marçal também romantizou essa característica da Lavínia para manter a imagem de mulher perfeita que mencionei acima.

Bom, isso posto, continuemos. Cauby em si parece um coadjuvante e, sinceramente, qualquer homem poderia ser ele na história. Não me conectei a ele, mas fiquei curiosa por saber o desenvolvimento da história. No começo, sabemos que o romance entre ele e Lavínia deu errado, mas não sabemos nem como e nem porquê, e esse é o gancho que deixa o leitor preso na narrativa. Conforme a história avança, e os outros personagens da cidadezinha aparecem, o mistério fica ainda maior e eu gostei de ler. 
Também gostei de todo o ambiente que Marçal criou para a história, com o pano de fundo das mineradoras, a cidadezinha no Pará, as descrições das cenas e os diálogos. Fiquei realmente imersa no universo da história e lembro que tive dificuldades de "voltar para o mundo real" quando eu parava de ler. 

Para mim, estes pontos que mencionei sobre Lavínia impediram que este livro fosse uma Sugestão de Leitura aqui no Perplexidade e Silêncio. Uma leitura escreveu uma resenha no Goodreads que define 100% minha opinião sobre a obra e, por isso, segue créditos a ela - obrigada Gabriela por ler meus pensamentos:



Recomendo a leitura desde que haja analíse crítica por parte do leitor.
Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

 

O Desafio Livros pelo Mundo tem como objetivo divulgar a literatura fora do eixo EUA-Inglaterra e, assim, permitir que mais leitores conheçam novos escritores e novas culturas. No post de hoje, temos o Haiti, com "Socando o Ar" de Ibi Zoboi.

Ibi Zoboi nasceu no Haiti, uma ilha de um arquipélago que engloba também Jamaica, Cuba e Bahamas que já foi colonizada pela Espanha e pela França. Sua família imigrou para os Estados Unidos nos anos 80, fugindo das condições absolutamente miseráveis do país, que é um dos mais pobres do mundo.
Ela conta que, por conta de sua cor e origem, as pessoas assumiam que ela não sabia falar inglês e a excluíam de eventos e oportunidades, e foi por isso que ela encontrou na poesia um refúgio. 
Zoboi também escreveu artigos para jornais e contos, e se formou em Escrita Criativa nos Estados Unidos. Um de seus contos foi publicado depois do enorme terremoto no Haiti de 2010 e foi ele que lhe conferiu popularidade mundial. 


"Socando o Ar" foi publicado em 2020 é um livro de poesia bem diferente do que estamos acostumados a ver. A obra conta a história de Amal Shahid, um menino de dezesseis anos que foi injustamente acusado de um crime, como consequência do racismo. Amal narra sua vida na prisão enquanto lembra de sua infância e do incidente que o levou a ser preso, bem como detalhes de seu julgamento e sua percepção do mundo.

Primeiro, o aspecto mais interessante deste livro é como Zoboi sabe ser lírica, ou seja, ela escreve trechos muito sentimentais, escolhe as palavras certas, e as frases das poesias alcançam um ritmo muito bonito em vários pontos da leitura. Fazia muito tempo que eu não lia uma poesia que me emocionasse ou me tocasse de alguma forma, e Zoboi conseguiu fazer eu genuinamente me importar com Amal.

Ao longo da poesia, através dos pensamentos de Amal, o livro questiona e explora dois pontos muito importantes: o racismo e o sistema prisional atual. Zoboi não afirma diretamente um ponto-de-vista e, sim, abre espaço para que o leitor chegue às suas próprias conclusões, mas uma coisa fica clara: o racismo tem um papel predominante no julgamento e acusação de Amal, e nenhum dos envolvidos em seu processo sequer percebe que está sendo racista - o famoso viés inconsciente. E, além de negro, Amal também é muçulmano, e fica claro que todas as pessoas ao seu redor, da professora de Artes ao seu advogado de defesa, não o vêem como ele é, e sim, através da lente do preconceito que possuem. 

Outra coisa que mexeu comigo foi como Amal tenta se manter fiel à sua essência, mesmo quando todos o julgam ou não o entendem. Amal é um artista, que questiona a sociedade ao seu redor e, ainda assim, vê beleza em um mundo que não lhe confere pertencimento. A sensibilidade de Amal aparece sobretudo quando ele fala da avó e eu, que perdi a minha recentemente, chorei em todos os trechos.

Mas, não vou mentir, achei difícil ler o livro todo no formato de poesia. A poesia de Zoboi é diferente - não sei bem como explicar, mas as frases dela não rimam como uma poesia tradicional. Eu, pessoalmente, preferiria ter lido a história de Amal como prosa, acho que poderia ter sido ainda mais rico e mais profundo, e menos cansativo. De forma alguma eu acho que isso é demérito de Zoboi, pelo contrário, sou eu que não curto muito esse estilo narrativo. 

Para quem tiver paciência, é uma leitura que eu super recomendo. Fiquei pensando no Amal muito tempo depois de ter terminado o livro e a beleza dele continua em mim.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

Se você quer ler mais resenhas sobre poesia, xerete os links abaixo:
Top 5 | Cinco poetas e poetisas que você precisa conhecer
Sugestão de Leitura | The Sun and Her Flower, de Rupi Kaur
A Bruxa Não Vai para a Fogueira Neste Livro, de Amanda Lovelace
Já Li #142 - Um útero é do tamanho de um punho, de Angélica Freitas

 

Pois engrenei na leitura dessa trilogia e estou adorando as histórias de Penélope, Baz e Simon. Na resenha de hoje, falarei um pouco sobre o que achei do segundo volume da série Simon Snow, "O Filho Rebelde" de Rainbow Rowell.

Se você quer saber mais sobre o primeiro volume, "Sempre em Frente", veja este post.

Vou partir do princípio que você já leu o livro anterior, por isso, se você não o fez, cuidado com os spoilers.
A história começa alguns meses depois que Simon mata o Mago. Simon, que não conseguiu se livrar das asas e da cauda de dragão, perdeu sua magia na luta anterior e passa por um episódio de depressão. Ele não se levanta do sofá para nada e, aos poucos, acaba se afastado de Baz e do mundo. Penélope, preocupada com o amigo, sugere uma roadtrip pelos Estados Unidos, com o objetivo de movimentar um pouco a vida deles e proporcionar uma mudança de cenário a Simon.
Ao chegarem nos Estados Unidos, eles percebem que Agatha, agora morando na Califórnia e tentando viver uma vida normal (isto é, sem magia), está em apuros, e decidem ir atrás dela. Em paralelo, Penelope descobre que seu namoro terminou e é confrontada por seu comportamento controlador. 
O trio enfrenta uma série de seres mágicos e é acompanhado por um normal chamado Shepard, que mais atrapalha do que ajuda. 

O que eu mais gostei nesse livro é que o enredo é focado no arco de desenvolvimento dos três protagonistas, o que é um pouco diferente do primeiro. Nele, Rowell precisou explicar várias coisas do mundo mágico que ela criou mas aqui, uma vez que já está tudo posto para o leitor, ela pôde se concentrar nos personagens em si, o que foi ótimo.
Penélope, acostumadíssima a sempre ter um plano, se vê perdida e sem saber o que fazer. Ela não consegue pensar em uma maneira de encontrar Agatha, seu namoro termina de uma forma abrupta (para ela) e todos ao redor de Penélope parecem fazer questão de jogar na sua cara seus defeitos. Eu me identifiquei muito com ela nesse livro e foi, sem dúvida, o arco que mais gostei de ler.
Baz finalmente conhece outros vampiros e isso coloca tudo em uma nova perspectiva para ele. Primeiro, ele percebe quão pouco sabe sobre si mesmo, uma vez que nunca ninguém lhe explicou o que era, de fato, ser um vampiro. Depois, ele descobre outras maneiras de lidar com a sede, de viver em sociedade e de usar seus poderes - algumas descobertas foram boas, outras nem tanto. Tudo isso fez com que Baz parecesse ao leitor mais um mocinho do que um vilão, o que é uma mudança em relação ao primeiro volume.
E, por fim, Simon está tentando se reencontrar, uma vez que não é mais O Escolhido e nem tem magia para usar. Propositalmente, Rowell escreveu seu arco em um ritmo um pouco mais devagar, pois acredito que ela esteja guardando o clímax dele para o último livro da trilogia. Simon foi quem menos me prendeu a atenção neste volume, pois senti que o foco maior foi em Penélope e Baz (o que achei bom, aliás).

O lado negativo destas escolhas de Rowell é que Shepard e os seres mágicos parecem apenas ornamentais na história, como se fossem um cenário ou um pano de fundo meramente com o objetivo de criar a tensão necessária para o enredo. Shepard, em si, é um personagem bem legal, que poderia ter sido explorado mais, então espero que ele apareça no próximo livro com mais destaque. Em relação aos seres mágicos, achei eles meio confusos, mal descritos, mas não chegou a ser um problema.
Agatha, por outro lado, foi completamente inútil. Na verdade, eu já achei ela desnecessária no outro livro, nesse então... sinceramente, Rowell poderia ter matado ela e não faria diferença nenhuma.

Outro ponto, que não chega a ser ruim, é que acho que Rowell poderia ter explorado mais o relacionamento entre Simon e Baz. Eu entendi que os dois não sabem como amar e, estando em posições muito complicadas na vida, não entendem como agir um com o outro, até aí ok. Porém, não sei, fiquei com a sensação de que faltou alguma coisa (uma cena, um diálogo?) para conectar os pontos dessa plot antes do livro terminar.
Também penso que ela poderia melhorar um pouco a descrição das cenas de ação, tenho a sensação de que elas não são o ponto forte da escritora. O ritmo e a dinâmica destas cenas era meio confuso e, por diversas vezes, eu tive a sensação de que estava faltando um pedaço da narrativa. Além disso, outra obervação que tenho, sendo escritora, é que o jeito como Rowell terminou alguns capítulos era meio frustrante - parecia que algo muito ruim tinha acontecido, mas aí no capítulo seguinte a história seguia normal. 

Mas, de forma geral, é uma leitura que sigo recomendando e já comecei a ler o próximo volume.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 


Para o post de hoje, separei as três trilogias que mais me marcaram na minha eterna saga de ler todos os livros de ficção-científica disponíveis *riso de nervoso*. São leituras que continuaram me acompanhando muito tempo depois de eu terminado a leitura, além de terem sido obras que devorei e não conseguia largar. 

Trilogia MaddAddão, de Margaret Atwood
A premissa da trilogia é que toda a raça humana foi exterminada, propositalmente, devido a uma pandemia que derreteu os seres humanos. A pandemia foi possível através da inserção de componentes químicos específicos nas vitaminas e nos remédios contra impotência sexual, os dois medicamentos mais vendidos no mundo. Esta praga foi construída em laboratório com o objetivo de substituir os seres humanos por uma raça superior, chamada Crakes. Os Crakes foram nomeados a partir de seu criador, Crake, que dá o título do 1º volume, Oryx e Crake. Os Crakes são seres geneticamente construídos para não possuírem os defeitos físicos, morais e psicológicos dos seres humanos: eles não sentem medo, não são violentos, são amorais, ingênuos, possuem uma pele que repele insetos para evitar doenças de contágio, entre outras características.
Eu sei que muitas pessoas conheceram Atwood através de "O Conto da Aia" mas, para mim, as reais obras-primas dela são estes três livros. A forma como ela imagina o futuro, conecta as histórias dos personagens, cria suspense e constrói o clímax da trilogia é incomparavelmente bom. Eu SUPER recomendo que você conheça estas obras dela e depois converse comigo.
Volume 1: Oryx e Crake, de Margaret Atwood
Volume 2: O Ano do Dilúvio, de Margaret Atwood
Volume 3: MaddAddão, de Margaret Atwood

Trilogia Arquivos Têmis, de Sylvain Neuvel
"Arquivos Têmis" é uma trilogia de ficção-científica que parte do pressuposto de que uma civilização alienígena deixou na Terra, há cinco mil anos, partes de um robô que se completariam formando uma arma com poder destrutivo nunca antes visto. Não sabemos se esta arma foi deixada como defesa para a Humanidade contra algum mal vindo do Universo ou se a própria raça alienígena virá buscá-la em algum momento. Também não sabemos se a tal raça retornará à Terra e com qual intenção.
Quero falar sobre o formato narrativo deste livro. A estória é contada através de relatórios e entrevistas das pessoas envolvidas na escavação do robô - um lingüista canadense (Vincent, igual a Sylvain), dois ex-militares (Kara e Ryan), uma geneticista (Alyssa) e uma médica (Rose Franklin). Tais relatórios e entrevistas são fornecidos a um homem, cuja identidade e nome não são revelados em nenhum momento, que parece ser o coordenador do projeto e é quem intermedia as relações da equipe com o governo norte-americano, através do Secretário de Segurança. No começo, estranhei bastante a narrativa, pois o leitor conhece os fatos a partir dos relatos da equipe e precisa fazer algumas inferências e extrapolações. Porém, passada a minha estranheza, fiquei completamente tomada pela leitura e devorei o livro em dois dias.
Para explicar porquê amo essa trilogia e também falando um pouco sobre o terceiro volume, veja este post: 5 Motivos para Ler Arquivos Têmis, de Sylvain Neuvel
Volume 1: Gigantes Adormecidos, de Sylvain Neuvel
Volume 2: Deuses Renascidos, de Sylvain Neuvel

Trilogia Wayfarers, de Becky Chambers
A premissa da trilogia é que o cosmos é governado pelo Galactic Commons (GC). É este governo, que contém um representante de cada planeta, que estipula quais são as regras de navegação e comércio através do espaço sideral. Assim, para viajar longas distâncias, as naves podem acessar uma subcamada da matéria-escura e, através desta, criar um túnel, criando um buraco de minhoca artificial e bastante perigoso.
Oito planetas compóem o GC: Terra, Marte, Aganon, Hagarem, Hashkath, Porto Coriol, Risheth e Sohep Frie.
Assim, o universo da trilogia Wayfarers é muito rico e dinâmico. Becky Chambers criou seres alienígenas, culturas, idiomas, economias e política para cada um destes planetas e todas estas criações soaram naturais e fluidas. Só por isso Becky já conquistou meu coração de leitora.
Eu recomendo muito, muito, muito que você leia os três volumes:
Volume 1: A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil, de Becky Chambers
Volume 2: A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada, de Becky Chambers
Volume 3: Record of a Spaceborn Few, de Becky Chambers


E você, quais são suas top 3 trilogias de ficção-científica? Deixe aí nos comentários que vou adorar saber!


Nesta resenha, falarei sobre o romance histórico e delicado de Min Jin Lee chamado "Pachinko", que acompanha quatro gerações de uma família sul-coreana que tenta se adaptar à vida no Japão entre guerras, crise econômica e luta pela sobrevivência.

Min Jin Lee nasceu em Seul, na Coréia do Sul, e aos sete anos de idade se mudou com a família para os Estados Unidos. Ela aprendeu a ler e a falar em inglês nas tardes em que passava em uma biblioteca perto da loja de jóias que seus pais tinham no Queens. Ela trabalhou por muitos anos como advogada, quando decidiu dedicar-se exclusivamente à escrita e a resgatar suas raízes sul-coreanas.

"Pachinko" foi publicado em 2017 e acompanha uma família sul-coreana que imigra ao Japão, época em que o Japão invadiu a Coréia do Sul e fez deste país sua colônia. Como consequência, os sul-coreanos são vistos como inferiores aos japoneses, perdendo o acesso ao trabalho, à educação e à uma vida digna.  
Dividido em três partes, o livro contas as histórias de: 
Parte I: Yeongdo (1883) que, viúva, abre uma pensão para sustentar a família e arranja um casamento entre seu filho Hoonie e Yangjin.
Parte II: Sunja (1910), filha do casal acima, se envolve com o empresário do mercado de peixe Hansu, um japonês rico e poderoso que tem uma família no Japão e se relaciona com Sunja quando vai à Coréia a negócios. Ela engravida dele e, à margem da sociedade com um filho bastardo, casa-se com um dos hóspedes da pensão, Isak, e se muda com ele para o Japão.
Parte III: Noa (1940), filho de Sunja e Hansu, quer se desvencilhar de suas raízes sul-coreanas pois sente vergonha de suas origens. Ele decide se estabelecer de vez no Japão e finge ser japonês para que tenha mais opções de futuro.
Além destes protagonistas, Lee adicionou mais uma série de personagens (tios, amigos, cônjuges) de forma que as dinâmicas entre eles constróem o enredo que permeia as três gerações.

Primeiro quero começar com as coisas que gostei. O livro me ensinou muito sobre a dinâmica entre sul-coreanos e japoneses, especialmente do início a meados do século 20. Eu não tinha ideia desse contexto histórico e achei muito enriquecedor e, provavelmente, um dos romances mais educacionais que li nos últimos tempos. A atenção aos detalhes também foi excelente. Eu senti que a autora criou cenários realmente fundamentados para os personagens, e gostei de ver como ela avançou a história com mudanças históricas e como isso se refletiu no destino da vida dos protagonistas.

Porém, essa mesma coisa de que gostei meio que arruinou a experiência para mim. Lee cobre tanta história e tantos personagens que não me senti conectada a ninguém em particular. Comecei bem a leitura, fiquei entretida quando Sunja aparece e me mantive interessada por toda a parte dela. Mas, depois, o enredo salta tanto no tempo e através de tantos personagens que eu simplesmente perdi o interesse em seguir acompanhando. 

E, além disso, Lee literalmente termina capítulos ou partes do livro com algo parecido com "E então ele/ela morreu." E descobrimos no próximo capítulo que cinco ou quinze anos se passaram, estamos vendo tudo da perspectiva de alguns outros personagens, todas essas coisas em suas vidas mudaram, e o personagem morto é brevemente mencionado e nunca mais volta. É como se ela tentasse injetar todo o drama desses grandes eventos da vida - gravidez, morte, família fugitiva etc. - sem justificar ou prosseguir com nada disso.

Muitas pessoas adoraram este livro mas, a mim, ele não atingiu. O enredo é claramente bem pesquisado e abrangente, mas eu senti que não tinha "corpo" suficiente para me convencer a gostar da história. Sofri para terminar a leitura e, quando finalmente cheguei ao fim, só senti alívio por ter conseguido descobrir como ele terminava. Por isso, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

 

Fazia um tempo que eu não lia Stephen King e, dia desses, fiquei com saudade de sentir medo (faz sentido isso para você?). Assim, escolhi a obra dele sobre vampiros, chamada "Salem".

Se você gosta de Stephen King, depois dê uma olhadinha nestes posts:
Já Li #132 - Novembro de 63, de Stephen King
10 coisas que odiei na adaptação cinematográfica de A Torre Negra, de Stephen King
12 dicas para escritores de Stephen King
Sugestão de Leitura | A Torre Negra, de Stephen King

"Salem" foi publicado em 1975 com o título "A Hora do Vampiro", título este que foi mudado em uma nova edição em 1991. Esta é a segunda obra da carreira de King, o que me surpreendeu - já é possível observar todas as características que fazem de King o autor popular que é, o que mostra como ele tem um estilo de escrita maduro desde o início de sua carreira.

O protagonista da história é o escritor Ben Mears, que retorna à cidade de sua infância, Jerusalem's Lot (Salem), para escrever um livro inspirado na lenda que gira em torno de uma mansão mal assombrada no alto de uma colina. Quando criança, Ben invadiu a casa para ver fantasmas e se deparou com o então dono dela enforcado em uma viga, visão esta que o aterrorizou por toda a vida adulta. 
Ao chegar na cidade e iniciar o livro, ele conhece Susan, por quem se apaixona, e também se aproxima de Matt Burke,um professor de Literatura. Ben começa a perceber várias coisas estranhas acontecendo em Salem e todas elas apontam para Barlow e Richard Straker, os novos donos da mansão amaldiçoada.

Este livro tem um quê de nostalgia que é interessante de ler. A narrativa soa como um clássico, como algo que já vimos/lemos um monte de vezes mas, ainda assim, é interessante e envolvente, como se fosse a origem de todas as nossas referências sobre histórias de horror e de vampiros. Grande parte deste envolvimento se deve ao fato de King não entregar logo de cara como são os tais vampiros da história (os personagens de Barlow e Straker) - o leitor sabe que eles são os vampiros mas, ao mesmo tempo, fica um mistério no ar sobre o que vai acontecer a seguir. 

Outro ponto que eu gostei muito no livro é que King não hesita em escrever uma narrativa sem final feliz, sem redenção e sem volta. Por mais que Ben seja o protagonista e tenha todas as boas intenções de um herói, ele é irrelevante dentro da ordem geral das coisas e não consegue frear o avanço dos vampiros, e é exatamente isso que faz dele um personagem interessante e que faz da narrativa algo legal de ser lido.

Além disso, tirando a parte dos vampiros, ainda assim o enredo se sustenta. Se você leu pelo menos um livro do King, você sabe como ele parte do princípio que todas as pessoas são corruptas e guardam segredos perversos. Em Salem não é diferente e King nos apresenta personagens repugnantes que enchem a história de camadas. 

Mas a parte que eu mais gostei mesmo é que aqui temos um personagem que continua seu arco na melhor saga de todos os tempos de todo o Universo, A Torre Negra. O Padre Callahan surgiu neste livro, ele é o padre alcóolatra de Salem que reluta em ajudar Ben na luta contra os vampiros mas acaba decidindo ajudá-lo. No entanto, em uma luta contra Barlow, Callahan é obrigado a beber o sangue do vampiro e foge de Salem logo depois, sentindo-se impuro. Seu final permanece em aberto e não sabemos se ele virou um vampiro ou não.
Ele vai reaparecer nos volumes 5 e 6 de "A Torre Negra", agora vivendo em Nova York e tendo a habilidade de sentir vampiros, ele mesmo não se tornou um. Muita coisa acontece com o Padre na saga mas, em suma, ele torna-se quase imortal e tenta defender uma cidade inteira da invasão dos Lobos. Através de Roland, o protagonista da saga, Callahan tem acesso ao livro escrito por Stephen King e se vê ali como um dos personagens, o que quase o enlouquece, uma vez que ele não sabe mais se é real ou não. No livro seguinte, o Padre tenta encontrar o próprio King para questioná-lo da realidade das coisas, num dos enredos mais mind blowing que eu já li na minha vida.
Somente uma palavra: maravilhoso.

Sem dúvida, é uma leitura que eu recomendo - mas não antes de dormir.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

 

A resenha de hoje é o primeiro volume da trilogia Delírio, livro este que tem o mesmo nome, de autora norte-americana Lauren Oliver. Nesta ficção-especulativa, Lauren brinca com a idéia de que o amor foi considerado uma doença contagiosa e a sociedade busca a cura desse mal. Mas será que esse livro provocou em mim a amor deliria nervosa? Spoiler alert: não. 

Publicado em 2011, o livro "Delírio", que dá origem à trilogia de mesmo nome, acontece num futuro distante onde o amor foi declarado uma doença (chamada amor deliria nervosa) altamente contagiosa que, como tal, precisa ser erradicada. Assim, quando alguém completa 18 anos de idade, a pessoa passa por um procedimento cirúrgico onde um pedacinho do seu cérebro é arrancado, impedindo que a pessoa sinta emoções de forma geral, e não somente o amor. 
Lauren explora um pouco as consequências de uma sociedade assim. Por exemplo, os casamentos são arranjados na ocasião do aniversário de 18 anos e o casal permanece juntos pelo resto da vida. Todos se sentem satisfeitos com os empregos e famílias que possuem, já que não são capazes de sentir frustração ou raiva. A sociedade já está bastante evoluída e ninguém precisa buscar soluções ou inovações, que vem da insatisfação ou da vontade de criar. 

A protagonista do livro é Lena, apelido de Magdalena, que perto do se aniversário de 18 anos conhece Alex. Lena, até então obediente, tímida e conservadora, se apaixona por ele, que é um jovem revolucionário que vive à margem da sociedade e fugiu da cura. Ao conhecê-lo, Lena também descobre a verdade sobre o destino de sua mãe, que até então ela pensava que havia morrido quando ela era criança, e passa a perceber as inúmeras falhas e problemas da sociedade em que vive.

A primeira coisa que me incomodou nesse livro é que ele é qualificado como uma distopia, o que é uma enorme ofensa às distopias de verdade do mundo literário. É, no máximo, e com alguma generosidade da minha parte, um romance ruim de ficção-especulativa. Falta muita profundidade nas premissas da história e há alguns componentes políticos que não fazem o menor sentido com o tom geral da obra, e parece que Lauren só os adicionou a pedido de um editor determinado a vender mais uma distopia YA. O livro todo me soou como um longo episódio da novela Malhação, só que no futuro.
E não são só os elementos políticos que ficaram jogados, como também a estrutura do governo. Seria necessário um nível de violência, controle e crueldade muito maiores - muito! - para que o cenário imaginado por Lauren fizesse sentido. 
Por fim, Lauren não explora o outro lado da moeda, que é como as crianças crescem sem sentirem-se amadas e/ou aceitas. Sendo psicóloga, isso teria um enorme efeito nelas e, consequentemente, na sociedade, e isso deveria ser endereçado para trazer o embasamento que faltou.

Outra coisa que não gostei foi Alex. Veja bem, se um macho vai me fazer contrair uma doença contagiosa extremamente fatal que vai fazer com que eu e toda minha família corram risco de serem presos ou mortos, esse macho tem que ser O Cara. Ele teria que ser escrito de uma forma que, ao ler, eu pensasse que Lena estava certíssima em se meter nessa fria. Mas o Alex é tão clichê, mas tão clichê, que eu sequer consegui construir uma clara idéia de quem ele era na minha cabeça. Parece que Lauren pegou um checklist "como escrever um romance YA" e foi cumprindo cada requisito. Muito chato, sem inspiração e longe de ser apaixonante.

A impressão que tive foi que Lauren teve a idéia, apresentou para uma editora, teve o livro aprovado e daí tentou forjar uma história que fosse comercialmente interessante. Falta alma na narrativa, falta vida, e até o estilo de escrita dela é entediante e linear. Também fiquei com a impressão de que Lauren não tinha pensado na idéia direito e, conforme escrevia, foi improvisando.
E, por tudo isso, não é uma leitura que recomendo.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 

 

Rebecca Solnit escreveu o que costuma dar errado nas conversas entre homens e mulheres em seis ensaios que compõem o livro "Os Homens Explicam Tudo Para Mim". Os ensaios falam sobre homens que erroneamente presumem que sabem das coisas e, também erroneamente, assume que as mulheres não - o que hoje conhecemos pelo nome de mansplaining. Na resenha de hoje, falarei um pouco sobre a minha opinião sobre este livro.

Se você quer conhecer mais obras da literatura feminista, navegue por este link. 

Rebecca Solnit frequentemente comenta que cresceu em um lar abusivo, onde sofria violências de todos os tipos do seu pai. Assim, quando tornou-se escritora, ela começou a se engajar em diversos movimentos e organizações contra a violência às mulheres. "Os Homens Explicam Tudo Para Mim", publicado em 2014, é um de seus livros mais populares até hoje, onde ela reúne seis ensaios - publicados anteriormente em outras mídias - sobre como (alguns) homens invalidam as experiências, opiniões e conquistas das mulheres através do discurso. 

Acho que a força deste livro - e a razão pela qual ele é tão popular - é que seu conceito principal fará sentido para muitas mulheres. Sempre vejo na internet mulheres contando suas experiências sobre como os homens tentaram explicar coisas para elas, com aquele tom de superioridade que é tão irritante. É bastante inspirador quando alguém coloca em palavras uma experiência que até agora você não sabia como explicar, ou que você achava que só você passava por aquilo.

Porém, conforme eu ia avançado pelos ensaios, não gostei de dois aspectos desse livro.
O primeiro é que Solnit foca muito em estatísticas, sobretudo relacionadas aos estupros nos Estados Unidos. E dentro disso há alguns problemas adicionais: a relação que ela faz entre mansplaining e estupro é desenvolvida rapidamente, sem muito aprofundamento, e Solnit parte do princípio que o leitor entendeu a linha de raciocínio dela em apenas um parágrafo. Depois, ela joga estatística atrás de estatística, focando nos Estados Unidos e talvez na África, mas esquecendo de considerar que tais informações são irrelevantes para leitores de outros países e, além disso, que ler números é um saco. E, por fim, partindo do princípio que você teve paciência para superar as estatísticas, Solnit não provê nenhuma reflexão, fechamento ou aprofundamento delas tampouco, e segue adiante para o próximo ensaio sem nenhuma amarração.

A outra coisa que me incomodou foi a falta de interseccionalidade. Há um trecho do livro em que ela chega a dizer que "a violência não conhece raça, religião ou nacionalidade, apenas gênero". Para quem não sabe, interseccionalidade leva em consideração os diversos aspectos que compõem o contexto social de uma pessoa ao analisar problemas como violência, fome, miséria, desemprego, etc. Assim, Solnit deveria dizer, por exemplo, que a violência afeta mais as mulheres do que os homens, mas que afeta muito mais [insira estatística aqui, aí sim relevante para a discussão] mulheres negras. A ausência dessa camada de análise é algo impensável para uma escritora feminista dos dias de hoje, e fiquei me perguntando se Solnit nunca leu "Mulheres, Raça e Classe" de Angela Davis.

E é curioso que o ensaio que eu mais tenha gostado do livro é o que fala de Virginia Woolf, mas que desvia completamente do tema central proposto pela obra. Foi um momento de fangirling da Solnit pela Woolf - o que, claro, apóio - mas Solnit deixou passar tantas conexões, tantas reflexões importantes sobre Woolf que conectariam com o tema. Há inúmeros relatos de Woolf sobre como ela foi sufocada pelas palavras e decisões do marido e de seu médico, e como ambos acabaram por sufocar sua identidade ao longo do tempo. Teria sido muito poderoso.

Quando cheguei ao final da leitura, fiquei com uma sensação de frustração ou, melhor ainda, de conversa que acaba pela metade. Parece que fica faltando alguma coisa - uma conclusão, um momento inspirador, um convite aos homens para participarem da conversa - não sei bem o quê. E aí, por isso, acabei não gostando da leitura, e acho que também não recomendaria este livro a ninguém. A coisa toda me soou como um "feminismo de internet", sem substância, e achei que Solnit poderia ter feito melhor do que isso.

Avaliação do Perplexidade e Silêncio: 


Teve uma época que, para onde quer que eu olhasse, eu via o nome da Leigh Bardugo. Parecia que todas as pessoas do mundo estavam lendo seus livros e eu era única que não sabia do que se tratava. Aí, quando saiu a série na Netflix de "Sombra e Ossos", resolvi ceder ao hype e, ainda bem, não me arrependi. No post de hoje, falarei sobre ambas as obras, livro e série, e as principais diferenças entre elas.

Vou começar falando um pouquinho sobre o livro. "Sombra e Ossos" é o primeiro volume da Trilogia Grisha, publicado em 2012. O livro é narrado em primeira pessoa por Alina Starkov, uma orfã que cresce na cidade de Keramzin ao lado de Mal, também orfão. Ela se torna a cartógrafa do Exército Real enquanto Mal é um rastreador, e o livro começa com eles aguardando para executar a missão aterrorizante de atravessar a Dobra. 
A Dobra é uma espécie de "túnel" mágico, originado por forças malignas, que abriga os volkras, criaturas monstruosas que são atraídas pela luz e pelo calor dos corpos dos humanos. Toda a dominação do Império é baseada em de que lado da Dobra você está.
Outra cidade de Ravka é Os Alta, onde vivem os Grishas. Eles são pessoas capazes de dominar os elementos (fogo, água, ar, terra) através da Pequena Ciência, e são considerados os seres mais poderosos do Império. Enquanto atravessa a Dobra, Alina descobre que não somente é Grisha, como é a Grisha mais poderosa de todos os tempos. Ela então é sequestrada pelo Darkling, que é a figura de autoridade dos Grishas, e levada para longe de Mal.

A primeira diferença entre o livro e a série da Netflix é que. embora a protagonista seja Alina, a narrativa não é inteiramente baseada nela - o que é algo bom. Alina é uma personagem interessante, mas eu prefiro como a série trouxe outros personagens com destaque ao longo da história, para balancear um pouco os acontecimentos e, também, adicionar mais ação e movimento à trama.

E, nessa linha, eu adorei os personagens de Kaz Brekker, Inej Ghafa e Jesper Fahey, que não aparecem no livro (pelo menos não no primeiro). Na verdade, para ser sincera, na série eu me interessei mesmo pelo núcleo deles e não estava dando a mínima para Alina. O trio tem uma vibe meio Peaky Blinders/meio Brandon Sanderson que eu me apaixonei imediatamente, e achei as narrativas de todos muito bem construídas. Inej, inclusive, ganhou o posto de crush.
Eu li que fizeram isso de propósito porque querem fazer um spin-off com o trio e tudo o que tenho a dizer é ONDE EU ASSINO.

Outra diferença que eu percebi foi o tom de romance entre as obras. No livro, eu fiquei um pouco entediada em alguns momentos quando Alina tinha pensamentos românticos ora sobre Mal, ora sobre o Darkling. Se fosse eu ali, descobrindo que sou a Grisha mais poderosa de todos os tempos, que estou sendo feita de otária pelo Darkling e que tenho a responsabilidade de salvar o Império, a última - última! - coisa que ia passar pela minha cabeça é dar uns amassos no Mal numa noite fria de inverno fugindo do Darkling. Eu até achei meio ridículo.
A série diminuiu um pouco esse tom, o que foi ótimo, mas ainda assim me vi revirando os olhos quando Alina se apaixona pelo Darkling. Eu entendo, ele é o Ben Barnes, ele é misterioso e poderoso, mas por favor, não seja essa garota clichê da literatura.

Além disso, eu gostei da Alina do livro mas não gostei da Alina da série, e acho que o problema foi a interpretação da atriz Jessie Mei. Fiquei com a sensação que ela demorou para engrenar na personagem e só lá perto do final da primeira temporada que me afeiçoei com ela.
O que conecta com outra diferença que é a raça de Alina. Na série, ela é uma shu, algo equivalente aos asiáticos, e sofre bastante preconceito por ser diferente. No livro, não há nenhuma menção a isso e, quando os shus são mencionados, é somente no contexto de que o Darkling visa dominá-los através da Dobra. 

Um ajuste que a Netflix fez foi "dar um nome" ao Darkling, para que a audiência se conectasse melhor com o personagem. Assim, ele começa sendo o General Kirigan, e só depois Alina descobre que ele é o Darkling e, por último, que é o Herege. 

Por fim, literalmente, o final da série é melhor do que no livro. No livro, Alina é movida pelo seu amor por Mal e descobre o tamanho do seu poder quando tenta salvá-lo dos volkras, ou seja, meh. Na série, fiquei com a sensação de que aprofundaram um pouco a jornada de autodescoberta dela (soei como a Lumena agora, não?) e achei muito mais interessante.
Assim, de forma geral, depois de pensar um pouco, o veredito é: eu prefiro a série, mas o livro é bom também. Acho que vale a pena ler o livro só se você gostou muito da série, como que para matar as saudades da história, mas o livro em si mesmo não me motivaria a continuar a trilogia.

E você, o que acha dessas obras? Deixe aí nos comentários que vou adorar saber! (:


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A Escritora

Na casa dos trinta anos, psicóloga de formação, mas escritora de coração. Procura os detalhes da vida que passam desapercebidos e as bonitezas que ninguém vê. Faz perguntas incômodas porque gosta de uma boa reflexão. Não caminha pelos lugares-comuns e, quando o faz, faz com convicção. Imagina, sonha e pensa demais. Fala pouco, mas quando fala, por favor preste atenção.

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