Diálogo: Amor x Solidão


*Trilha sonora do post: Speed of Sound - Chris Bell*

Amor: Ruh / Solidão: Yasmim

Amor: Por que chora, menina?

Solidão: Estou fraca. Os "adeus" vem me destruindo aos poucos.

Amor: Eles arrancam pedaços mesmo. Não posso negar. Eu mesmo sou todo esburacado e cheio de remendos, mas temos que acreditar que cicatrizes são marcas - mas boas. Não acha?

Solidão: No seu caso, sim. Elas te lembram épocas gloriosas. As minhas só servem para marcar quantos já se foram, como presidiários marcam os dias que se passaram nas paredes. Invejo a forma como você continua brilhando entre as pessoas, mesmo que pouco, nesses tempos modernos marcados pela distância.

Amor: Mas você está esquecendo que lembranças boas podem doer tanto quanto as ruins. Convenhamos, eu e você sofremos quase o tempo todo. Creio que somos incompreendidos.

Solidão: Nunca consegui fazê-la mudar de ideia, a Incompreensão. Ela é sádica e eu, calejada, acabo abaixando a cabeça. Isso me torna masoquista ou apenas submissa? Ou ambos?

Amor: Acho que é a sua zona de conforto, ser machucada. Te cai bem uns hematomas na cara. Te deixa bonita. Eu gosto, pelo menos: tenho vontade de cuidar de cada um deles.

Solidão: Muito obrigada pela bondade e desculpe-me a frieza. É comum que eu me proteja assim. Você cria as pontes e eu subo os muros. Espero que um dia você possa derrubá-los, já que eu não consigo.

Amor: Derrubar, não derrubo. Mas coloco uma florzinha no meio dos tijolos.
Amor: Mas, sabe, ando cansada. Em tom de confissão que te digo isso. Estou cansada: tem que se lutar muito, para amar. Você fala de muros, mas no Amor o que mais vejo são pedras. Ando tropeçando em várias delas, meus pés estão duros e amassados. Não sei exatamente por quê, mas continuo andando. Vai ver o masoquista sou eu.

Solidão: Mas o teu esforço vale a pena. Afinal, se você não pisar nos pedregulhos, o que irá mover o mundo? Eles precisam de você, todos precisamos. Inclusive eu. Meu masoquismo é silencioso, o seu vem com uma recompensa. Assim é bom sofrer. Faz sentido o que digo?

Amor: Faz. Posso pegar na tua mão? Sei que dói.

Solidão: Pode. Só vai doer quando você soltar. E se for necessário, eu fecho os olhos quando acontecer. Assim eu finjo que não vi. Quem sabe eu seja mais feliz, nessa enganação infantil. As crianças são felizes e vivem em suas imaginações.

Amor: Começo a pensar que seu nome de verdade é Abandono.

Solidão: Na verdade, ele é o meu melhor amigo. Andamos de mãos dadas, sou a consequência, o seu sobrenome. Seria egoísmo se eu o deixasse sozinho, por isso não ouso largá-lo. Acho que te entendo, Amor. Talvez exista um pouquinho da sua parte brilhante em mim.

Amor: Só me valorizam porque você existe, querida.

Solidão: Será que é por isso então que dizem que precisamos conhecer as trevas para realmente aproveitarmos a luz em nossas vidas?

Amor: No Amor também tem bastante de escuridão. E em você também há luz. Acho tão bonito.

Solidão: A beleza está nos olhos de quem vê, não é o que dizem? Acho que eu só preciso olhar de um outro ponto de vista, Amor. Encontrar a beleza nos pequenos detalhes em meio à destruição em vez de fingir que não a vejo ali.

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